Comumente se ouve discussões a respeito da aplicação do famoso aço na blindagem automotiva. Criticado por alguns, muito por interesses comerciais e a falta
de regulamentações ou padronização da blindagem, o aço é remetido a algo retrógrado.
Com o intuito buscar maiores informações técnicas sobre o tópico, elaboramos um breve resumo após consulta a vários especialistas das mais diversas áreas
da blindagem. Veja o resultado a seguir e tire suas próprias conclusões.
A FIBRA DE ARAMIDA
- Do nível I ao nível III-A de blindagem, é possível a utilização da fibra de aramida em determinadas áreas como proteção balística
- A fibra de aramida é produzida por um fio com características especiais, que a partir de uma específica trama, promove a devida resistência balística quando aplicada em conjunto com algum outro material na face de ataque do projétil.
- Para que funcione corretamente, a fibra de aramida necessita realizar um pequeno deslocamento ao ser atingido por um projétil, sendo este movimento chamado de “trabalho”. Este movimento faz com que a energia do projétil seja absorvida, freando o mesmo. Para que tudo isso funcione, é necessário que a fibra de aramida esteja adequadamente fixada em anteparo, no caso, a própria lataria do veículo.
- Para que a fibra de aramida absorva a energia cinética do projétil, ainda é necessária uma mínima área capaz de permitir o seu trabalho. Quanto mais próximo à uma borda da fibra da aramida, mais crítica torna-se a absorção da energia do projétil. Áreas muito pequenas ou regiões muito estreitas tornam-se portanto mais críticas ao uso da fibra de aramida.
O AÇO
- Blindagens do tipo nível III, resistentes inclusive a alguns tipos de fuzis, via de regra são projetadas somente através do uso de determinados tipos de aço.
- Por não se tratar de um item controlado pelo Exército, pelo menos até o momento, o uso do aço tipo inoxidável de uma determinada classificação, tornou-se o padrão para utilização na blindagem. Porém, como não se trata de um produto controlado pelo Exército Brasileiro, não são exigidos para o seu manuseio os testes de validação oficiais emitidos pelo próprio Exército – os chamados RETEX (Relatório Técnico Experimental).
- O aço acaba sendo utilizado nas áreas pequenas e regiões estreitas como colunas frontais (laterais do parabrisa), em regiões onde a fibra de aramida não pode ser fixada a outro material (exemplo: proteção interna de maçanetas) e como material de sobreposição às bordas de vidros e bordas de fibra de aramida.
Diante das argumentações mais técnicas, procurando filtrar ao máximo as questões comerciais, nos parece bastante racional a necessidade da utilização do aço em determinadas partes do veículo. Considerando os pressupostos de que o aço apesar de mais pesado que a fibra de aramida e que um veículo blindado é um veículo transformado, ou seja, não é mais um veículo de passeio convencional, fica mais evidente a necessidade de sua aplicação em um veículo blindado.
Enfim, devido à falta de uma normativa sobre a aplicação de blindagem em veículos, além da atual norma de testes de materiais com propriedades balísticas, temas como este estão sempre em discussão sem muito amparo técnico…